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Vírus da zika modificado em laboratório destrói células de tumores do sistema nervoso

Escrito por Bruna Marchini

abril 19, 2024

Vírus da zika modificado em laboratório destrói células de tumores do sistema nervoso

A transformação do vírus da zika em produto de biotecnologia para o tratamento de tumores do sistema nervoso é o resultado do projeto de uma startup criada por pesquisadores da USP. Testada com êxito em animais, uma versão sintética e modificada do vírus, que não transmite a doença, penetra nas células tumorais e, ao se multiplicar, leva essas células à morte. Os testes clínicos do tratamento devem começar em junho, após a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O estudo com o vírus modificado é descrito em artigo publicado na edição de fevereiro da revista Molecular Therapy. A pesquisa, conduzida pela startup de biotecnologia Vyro Biotherapeutics, empresa incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) da USP, contou com a colaboração de pesquisadores do Instituto Butantan, Harvard Medical School (Estados Unidos) e Universidade de Cambridge (Reino Unido), entre outras instituições.

O tratamento é voltado principalmente para tumores do sistema nervoso central, tanto em adultos quanto em crianças, que atingem cerca de 300 mil pessoas em todo o mundo, com sobrevida estimada em 14 meses após a descoberta do tumor. “Também foi observado um potencial para tumor de mama tipo triplo negativo”, afirma ao Jornal da USP a pesquisadora Carolini Kaid, da Vyro, empresa criada por especialistas do Centro de Pesquisas do Genoma Humano e Células-Tronco (HUG-CELL) do Instituto de Biociências (IB) da USP.

Com base em pesquisas sobre a atividade do vírus da zika contra tumores, os pesquisadores desenvolveram uma versão sintética, diferente da encontrada na natureza, que não transmite a doença. “Foi inserida no genoma do vírus uma sequência suicida, de modo que, se o vírus entrar em células saudáveis, ele é degradado”, relata Carolini Kaid. “Entretanto, quando entra em uma célula tumoral, ele replica, levando-a à morte.”

Morte da célula tumoral

“O vírus modificado usa a maquinaria da célula para replicar seu genoma e multiplicar. Quando a quantidade do vírus aumenta exponencialmente, a membrana plasmática da célula se rompe, processo conhecido como lise, e ela morre”, descreve a pesquisadora. “Por isso, esse tipo de terapia é chamado de oncolítica, ou seja, lise da célula tumoral.”

Os testes foram feitos com camundongos Balb/C Nudes. “No experimento foram inseridas células tumorais humanas no cérebro dos animais, imitando uma metástase”, relata Carolini Kaid. “Sete dias depois da inserção e crescimento do tumor, o tratamento com vírus modificado é feito direto no cérebro ou de modo sistêmico, por meio de injeção na barriga do animal, o que equivale à introdução de soro na veia em seres humanos.” A metástase é a fase final da propagação das células de tumores pelo corpo.

“Ambas as vias de administração mostraram remissão total do tumor, aumento de sobrevida e segurança”, ressalta a pesquisadora. “Como o vírus desenvolvido é sintético, o caminho para chegar à clínica é mais curto.” De acordo com Carolini Kaid, já foi desenvolvido o processo de produção industrial, ou seja, o vírus sintético pode ser produzido em grande escala.

Micrografia eletrônica do vírus zika, em azul-escuro – Imagem: Domínio Público/CDC-Wikimedia Commons

“A equipe médica da startup já desenhou o estudo clínico de fase 0 para glioblastoma recorrente, um tipo de câncer nas células do cérebro”, aponta. “Os próximos passos são submissão da documentação para a Anvisa e a previsão para início dos estudos clínicos é junho de 2024.” O artigo Genetically modified ZIKA virus as a microRNA-sensitive oncolytic virus against central nervous system tumors está disponível neste link.

A patente do tratamento foi submetida ao United States Patent and Trademark Office (USPTO), no Estados Unidos, no modelo do Tratado Internacional de Patentes (PCT), no qual o registro abrange vários países, inclusive o Brasil, com auxílio dos escritórios de patente Kaznar Leonardos no Brasil e Wilson Sonsini nos EUA. Todo o estudo foi financiado pela Vyro, que em 2022 recebeu um investimento de US$ 1,5 milhão da Vesper-Venture, fundo brasileiro especializado em biotecnologia.

Via: USP

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