O Dr. Ricardo Afonso é médico ortopedista do Instituto Affonso Ferreira e membro do corpo clínico do Centro Médico de Campinas. É um dos fundadores da organização, chefe das Expedições e responsável pela articulação junto às instituições parceiras. Voluntário desde 2003.
Dr. Ricardo conta que entrou na saúde por ter avós e muitos primos que são médicos. Sua família é bastante grande, pois seu pai tem 15 irmãos, resultando em cerca de 70 primos. Ele cresceu nesse ambiente e sempre achou muito gratificante ser médico e cuidar das pessoas. Foi então que fez uma viagem para o Pico da Neblina na Amazônia, o ponto mais alto do Brasil, onde caminhou com um grupo de médicos.
Na volta do Pico da Neblina, pararam numa aldeia chamada Maturacá, onde viram a realidade da saúde indígena. Apesar de terem uma saúde boa, o acesso à saúde, especialmente na parte cirúrgica, ainda era muito difícil. Para fazer uma cirurgia de catarata, por exemplo, a população precisa sair de Maturacá e andar dois ou três dias de barco até São Gabriel, onde ficam hospedados até conseguir marcar uma consulta em Manaus. Esse processo pode levar quatro meses.
Diante dessa situação, eles pensaram: “Vamos trazer o hospital para a floresta?” Foi assim que surgiu a EDS. Na época, Dr. Ricardo já estava estabelecido como médico e buscou a ajuda de amigos empresários para criar os estatutos do hospital, já que ele não tinha conhecimento nessa área.
O hospital em que atuavam foi construído durante o Projeto Calha Norte, mas nunca tinha sido usado para cirurgias e estava abandonado. Isso o incomodava, especialmente a falta de assepsia adequada. Assim, ele e sua equipe começaram a desenvolver seu próprio centro cirúrgico a partir de 2005 e 2006, com uma equipe especializada.
Ele reforça que sempre mantiveram uma relação com os povos indígenas para entender suas necessidades. Durante sua jornada à frente da ONG, percebeu que muitas vezes o que ele pensava ser uma grande contribuição não era tão valioso para eles.
Após mais de 20 anos de trabalho, um dos principais desafios que enfrentam é o financiamento para realizar expedições. Com o tempo, tornaram-se cada vez mais independentes do Estado e tiveram que assumir mais responsabilidades. A falta de fundos os levou a se reinventar duas vezes.
A primeira reinvenção foi em 2010, após o terremoto no Haiti, onde conseguiram montar um hospital e realizar várias expedições. Isso resultou em uma maior entrada de dinheiro, permitindo que crescessem. No entanto, tiveram que se reinventar novamente quando não podiam fazer expedições. Começaram pequenos, com a primeira expedição composta por quatro pessoas e 100 kg de equipamento, mas a última envolveu 80 pessoas e 20 toneladas de equipamento, realizando 450 a 600 cirurgias em uma semana.
Durante a pandemia, a EDS apoiou a população com um pronto atendimento na frente da Unicamp para triagem de pacientes com COVID-19. Eles também começaram a construção de um hospital de campanha com 122 leitos para o município de Campinas.
Além disso, acompanharam o colapso do oxigênio em Manaus e um dos voluntários teve a ideia de usar concentradores de oxigênio, colocando 260 enfermarias na Amazônia para evitar que os pacientes fossem para as grandes cidades. Utilizaram também o WhatsApp como ferramenta de comunicação entre os médicos locais.
A maior lição aprendida, segundo ele, é a maneira como os indígenas pensam diferente, transformando-o em um ser humano melhor e mais solidário.
Em dezembro, Dr. Ricardo viajou para Dubai para participar da COP 28, onde se encontrou com o presidente da COP, buscando apoio para a EDS seguir com o atendimento médico de ponta nas regiões mais isoladas da Amazônia.
Escute agora o episódio com o Dr. Ricardo e venha conhecer um pouco mais sobre o EDS!