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Pesquisa indica medicamento inovador para tratamento de dependência química

Escrito por Ana Mariano

outubro 17, 2024

A doxiciclina, um antibiótico acessível e amplamente utilizado desde os anos 60, demonstrou um efeito neuroprotetor que a torna promissora para o tratamento de transtornos relacionados ao uso de substâncias. Essa descoberta foi feita por cientistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, que realizaram experimentos com animais.

Amanda Juliana Sales, responsável pela pesquisa no Departamento de Farmacologia da FMRP, tratou mais de 300 camundongos em estudos que analisam o potencial de dependência da cocaína e da morfina, utilizando subdoses de doxiciclina. Os resultados mostraram que a administração do antibiótico reduziu os efeitos recompensadores associados ao uso dessas drogas. Esta é a primeira evidência observada de que o medicamento pode atuar contra a dependência química.

Embora não existam “estudos realizados em humanos com transtornos relacionados ao uso de substâncias que investiguem os efeitos da doxiciclina”, Amanda ressalta que as evidências sugerem que o medicamento vai além de sua função antibiótica. Dada a segurança das baixas dosagens e os resultados positivos até agora, ele poderia “ser redirecionado para o tratamento” desses transtornos.

Apesar das promessas, “trata-se de um estudo pré-clínico focado apenas em camundongos machos”, observa a pesquisadora, que já está expandindo a pesquisa para incluir fêmeas. Além disso, investigações estão sendo aprofundadas para entender os prováveis mecanismos de ação da doxiciclina e de outro fármaco semelhante, a demeclociclina, além de outros compostos sintéticos sem atividade antibiótica.

Esses estudos estão sendo realizados em colaboração com o Institute Paris Brain, ICM – Institut du Cerveau et de la Moelle épinière, Salpetriére Hospital, na França. Os medicamentos em investigação, em doses não antimicrobianas, mostraram efeitos neuroprotetores no cérebro. “Nosso objetivo é avaliar a eficácia dessas substâncias nos efeitos reforçadores associados ao uso de drogas de abuso”, acrescenta, ressaltando a necessidade de pesquisas que elucidam a neurobiologia da dependência química para desenvolver tratamentos mais rápidos e eficazes.

Amanda Sales conduziu as investigações nos laboratórios dos professores da FMRP, Felipe Villela Gomes e Francisco Silveira Guimarães, e da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP, Elaine Del Bel, onde testou os efeitos de baixas doses de doxiciclina administradas de um a três dias em camundongos machos previamente expostos à morfina ou à cocaína, drogas de abuso comuns. Os resultados mostraram que a doxiciclina diminui os efeitos recompensadores e os comportamentos relacionados ao uso dessas substâncias.

As propriedades da doxiciclina, que conseguem atravessar a barreira hematoencefálica e inibir as metaloproteinases (enzimas essenciais na reparação de tecidos celulares) no cérebro, têm sido analisadas como um tratamento potencial para distúrbios neurológicos. Isso justifica a investigação dos efeitos reforçadores das drogas de abuso e a possível aplicação nos transtornos relacionados ao uso de substâncias, que têm poucas opções de tratamento disponíveis. A pesquisadora explica que o aumento das metaloproteinases no cérebro está associado a alterações neuroplásticas, sugerindo que essas enzimas desempenham um papel na dependência química.

“Substâncias como a cocaína provocam sensações de euforia, alterações na percepção e alívio da disforia, que é uma mudança temporária do humor, incluindo sentimentos de tristeza e angústia. O uso recorrente da droga ocorre na busca por esses efeitos”, afirma.

Como muitos avanços na compreensão dos efeitos do uso de substâncias resultaram de estudos pré-clínicos com modelos animais, Amanda e seus colegas utilizaram métodos que simulam respostas comportamentais ao uso de drogas de abuso: a preferência condicionada ao ambiente (que mede o tempo que o animal passa em um local onde foi exposto à droga) e a sensibilização locomotora (que avalia o aumento da atividade após uso repetido da droga).

Após os tratamentos com a doxiciclina, os pesquisadores observaram uma diminuição na preferência condicionada ao local induzida pela morfina, reduzindo seus efeitos recompensadores, sem afetar o efeito analgésico da morfina na dose testada.

“Resultados semelhantes foram verificados com a doxiciclina em animais condicionados ao ambiente com a cocaína”, destaca a pesquisadora, acrescentando que a doxiciclina também “impediu a hiperatividade e a sensibilização locomotora em camundongos tratados com cocaína”.

Para Amanda Sales, os resultados da pesquisa têm grande relevância, uma vez que o transtorno relacionado ao uso de substâncias “representa um desafio global à saúde pública, com a necessidade urgente de tratamentos mais eficazes”. Nesse contexto, o indivíduo é incapaz de interromper o uso compulsivo de substâncias potencialmente viciantes, como psicoestimulantes, álcool e drogas ilícitas, resultando em “prejuízos cognitivos, emocionais e de personalidade, além de problemas legais, sociais, familiares e disfunções clinicamente significativas”, conclui.

Via: Jornal da USP

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