Pesquisadores da USP, ao analisarem um dos maiores grupos de amostras de pacientes com glioma, descobriram que os tratamentos convencionais, como quimioterapia e radioterapia, podem modificar a agressividade do câncer. Essa descoberta, publicada na revista Cancer Research, pode abrir caminho para novas abordagens terapêuticas.
Os gliomas constituem cerca de 42% de todos os tumores cerebrais e 77% dos malignos. Embora a doença seja rara em crianças, sua incidência aumenta com a idade, sendo mais comum em pessoas entre 75 e 84 anos. As alterações epigenômicas, que influenciam a expressão genética, são cruciais para classificar a gravidade desses tumores.
Tathiane Malta, coordenadora do Laboratório de Epigenômica do Câncer da FCFRP da USP, explica que pacientes com gliomas de baixo grau, após tratamento, apresentaram alterações epigenéticas que os tornaram semelhantes a tumores de alto grau, mais agressivos.
“Precisamos investigar se essas mudanças estão ligadas à progressão para formas mais agressivas”, afirma Malta.
O estudo, apoiado pela Fapesp, avaliou a evolução epigenética de gliomas em 132 pacientes, proporcionando uma comparação entre tumores primários e recorrentes. Os cientistas observaram um aumento na proliferação celular e mudanças no microambiente tumoral. Notavelmente, pacientes com mutações IDH1, que têm melhor prognóstico, mostraram alterações mais significativas em seu epigenoma após o tratamento.
“Os gliomas IDH1 mutantes apresentam metilação do DNA que diminui com a recorrência, tornando-se mais agressivos. Já os tumores IDH selvagem são mais estáveis e agressivos desde o início”, destaca Malta.
Essas descobertas sugerem que o tratamento altera os tumores de forma a aumentar sua agressividade. Malta acredita que a compreensão dessas mudanças epigenéticas pode levar a novas estratégias terapêuticas.
Os próximos passos incluem a realização de estudos in vitro e in vivo para confirmar os achados.
“É importante considerar possíveis vieses, já que nossos dados foram coletados de várias instituições e refletem práticas clínicas que mudaram ao longo do tempo.”
Via: Jornal da USP