Cuidar da saúde bucal é muito importante, mas constantemente passa despercebida ou é até mesmo deixada de lado. Existe, por exemplo, uma camada muito fina, pegajosa e incolor de bactérias que adere aos dentes (placa bacteriana) e que pode levar a doenças muito graves, como tártaro, gengivite, cáries e, no pior dos casos, até a perda do dente.
Assim como a microbiota intestinal, a bucal é formada por milhões de microrganismos. Os que são benéficos, conhecidos como probióticos, auxiliam na manutenção da saúde bucal. “Temos muitos alimentos e suplementos alimentares nutracêuticos que liberam esses microrganismos benéficos no intestino. Até pouco tempo, só conhecíamos uma goma de mascar com o objetivo de liberá-los na boca”, diz Carmen Trindade, professora titular da Faculdade de Zootecnia e Engenharia (FZEA) de Alimentos da USP.
Pensando nesses dois fatores, ela e outros pesquisadores colaboraram em um projeto de um filme de dissolução oral que dissolve na boca, liberando microrganismos que têm efeito benéfico na saúde bucal – os probióticos – e atuando para uma possível prevenção de inflamações na cavidade bucal, cáries e mau hálito.
A iniciativa, da pós-doutoranda Riana Barrozo Heinemann, auxilia na manutenção da microbiota bucal equilibrada. Ela ajuda a produzir bacteriocinas, que são proteínas com atividade antibiótica, que vão agir seletivamente combatendo microrganismos maléficos, como o Streptococcus mutans, causador da cárie.
“O biofilme que desenvolvemos se dissolve totalmente na boca após alguns segundos, sem a necessidade de água e de mastigação, não causa alergia e não tem nenhuma restrição para intolerantes à lactose, por exemplo. Ademais, pode ser utilizado por públicos de todas as idades”, explica a professora.
Essa invenção é interessante porque é uma forma de veiculação de fármacos para pessoas que têm dificuldade de engolir comprimidos, como crianças e idosos. Além disso, não precisa de água para a dissolução na boca nem mastigação.
Situação da patente
O desenvolvimento do material contou com a colaboração da professora da FZEA, Rosemary Carvalho, que já tinha experiência no desenvolvimento de biofilmes comestíveis para embalar alimentos. Também contou com o auxílio do professor Pedro Rosalen, que era da Faculdade de Odontologia da Unicamp e tem experiência em microbiota bucal.
A patente do material, chamada Filme de Dissolução Oral para Veiculação de Probióticos na Boca, já foi aprovada. Agora, precisaria ser comprada por uma empresa que tivesse interesse em produzir e comercializar o produto.
*Estagiária sob supervisão de Paulo Capuzzo