A Saúde 5.0 já é uma realidade e caminha lado a lado com a proposta de uma sociedade 5.0, baseada em um modelo de organização social em que tecnologias como Big Data, Inteligência Artificial (IA) e Internet das Coisas (IoT) são usadas para criar soluções e transformar a saúde em todo o mundo. Para o médico anestesiologista Diogenes Silva, CEO da Anestech Innovation Rising, startup que desenvolve tecnologia e inteligência de dados perioperatórios, essa nova sociedade impacta diretamente nas relações assistenciais e comerciais na saúde. “Estamos migrando de uma identidade biológica para uma identidade tecnológica, onde teremos desde edição genômica até nanorobôs atuando para a promoção da saúde. Novas fronteiras estão sendo descobertas como genética molecular e robótica, o que traz tecnologia centrada no ser humano”.
O executivo explica que, em anestesia, segmento no qual a Anestech atua, foram necessários 30 anos para sair de uma era 3.0 focada em equipamentos para uma 4.0 – quando a atenção passou a contemplar também os dados gerados em todo processo anestésico. “Agora, com a velocidade que a tecnologia trouxe para o mundo, levará menos de 5 anos para saltarmos à Saúde 5.0. Estamos saindo de um mundo físico apartado de um digital para um mundo que os teóricos chamam de Físital, fundindo os dois em um só, não apenas convivendo separada e concomitantemente”, explica.
Se a inteligência artificial na prática anestésica ainda é apenas teórica, usando modelos hipotéticos, a capacidade de gerar e processar informação cresceu exponencialmente. De acordo com Silva, a Anestech avança justamente neste ponto. “Já observamos resultados que permitem uma capacidade preditiva de incidentes e eventos adversos, por exemplo, como o GPS de carro que nos mostra qual seria o melhor caminho a ser seguido levando em consideração as particularidades de cada caso”.
A anestesiologia é uma atividade médica de grande criticidade, sem margem de erro e de resultados imediatos, que precisa ter performance frente a todos os tipos de problemas de saúde que o paciente cirúrgico traz consigo, e, portanto, é carente de apoio cognitivo em tempo real. “Na prática, o que temos hoje é um melhor comportamento profissional do anestesiologista em banir da sua rotina o desperdício de dados eliminando o papel, passando, assim, a estruturar a informação para que o aprendizado de máquina (Machine e Deep Learning) atue encontrando os padrões da melhor performance e construa uma base para o apoio à tomada de decisões”, ressalta.
“Estamos trabalhando para que, em um futuro próximo, possamos explorar as melhores ações a partir das qualidades da máquina, pautados na análise de um conjunto de informações e padrões massivos e em tempo real, e dos profissionais anestesiologistas com habilidades humanas impossíveis de serem substituídas, como empatia, atenção, segurança e liderança”, conta.
Business Intelligence para salas de cirurgias
A Anestech tem como principal produto o AxReg, ferramenta digital para anestesistas, que promove eficiência e concilia a melhor experiência aos profissionais. A plataforma faz a integração, o rastreamento, a análise e a entrega de dados em tempo real, através de business intelligence em nuvem de dados e aplicações dedicadas para mobiles na sala de cirurgia. A solução acompanha todos os momentos do trabalho do anestesista, registrando uma avaliação pré, trans e pós-anestésica. “Sempre tivemos orgulho de dizer que é uma ferramenta feita de anestesista para anestesista. Quem é da área da saúde entende o quanto é importante termos registros digitais, não só para segurança do profissional e do paciente, mas para análises pós-cirúrgicas de momentos críticos e até na condensação de indicadores de centros cirúrgicos para os hospitais e seus gestores”, conta.
O executivo diz que é inevitável que a área sofra uma pressão maior por performance, já que, por ser uma especialidade de resultados imediatos, a análise de desempenho também passa a ser em tempo real. “Isso exige que as informações coletadas a cada cinco minutos pelo anestesiologista no centro cirúrgico passem a ser resgatáveis e passíveis de análise, gerando uma inteligência operacional e fomentando, portanto, a interoperabilidade de dados e a automatização de processos repetitivos”.
Essa nova realidade traz a robotização em anestesiologia e a teleanestesia, configurada pelo apoio remoto de profissionais, ao anestesiologista atuante na sala cirúrgica. Uma outra tendência, a partir da decisão apoiada por máquinas, é a assistência em alça fechada ou closed-loop, que dita a conduta anestésica não baseada única e uniformemente em guidelines e consensos, mas também na realidade dos dados do perioperatório, personalizando a entrega assistencial frente à realidade de cada paciente, levando em conta comorbidades, dados intra-operatórios e até a análise do genoma.
Adesão
Em termos de negócios, a Anestech tem visto os resultados na prática. Em 2020 a empresa cresceu 277%, somando 2 mil anestesiologistas e mais de 1,2 mil instituições atendidas no Brasil e no exterior. A startup também passou pelo programa Scale-up Endeavor, integrou grupos como o Cubo Health, e é uma das healthtechs aceleradas no Eretz.bio, braço de desenvolvimento de startups do Hospital Albert Einstein.
“Toda empresa passa pela fase de Product Market Fit, que nada mais é do que o encontro entre a necessidade dos clientes com o produto, e 2020 foi o momento para consolidar nossos produtos nesse quesito, tendo como resultado o fechamento com grandes redes de hospitais do mercado nacional e hospitais de referência, encerrando o ano com usuários em todas as regiões do país”, ressalta o CEO.
Diogenes Silva explica que outro movimento positivo é que o mercado entre sistemas complementares se mostrou aberto a parcerias, entendendo que integrações entre sistemas vêm para somar na proposta de valor de seus produtos para com os seus clientes. “O AxReg recebeu a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como ferramenta de auxílio ao anestesista, fortalecendo a contribuição para o segmento. O app também foi um dos poucos disponíveis na Apple Store mundial com permissão da Apple para publicar condutas profissionais sobre o combate à Covid-19 que visava a segurança de profissionais e pacientes”.
Próximos Passos
A empresa iniciou recentemente uma iniciativa, em parceria com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), focada em predição de dados dos centros cirúrgicos, utilizando informações anonimizadas de cirurgias para traçar tendências e possíveis desfechos, a partir de Inteligência Artificial.
“O ano de 2021 será focado em consolidar o braço SAAS da empresa e dar muita musculatura ao braço Analytics, com atenção aos dados além da melhoria exponencial da usabilidade do produto. Finalmente, depois de construir uma boa plataforma, possuímos um exponencial acréscimo de dados em nossa base oriundos diretamente do point-of-care. Estamos trabalhando em melhorias no AxReg, como novas funcionalidades e projetos complementares para a gestão do processo anestésico utilizando dados coletados e inteligência analítica para promover segurança e transparência. Acreditamos e vemos um grande potencial no mercado brasileiro”, conclui.