A USP lançou, em 23 de abril, a primeira instalação brasileira dedicada à criação de suínos para a produção de órgãos para xenotransplantes, com foco na pesquisa e desenvolvimento de órgãos de porcos geneticamente modificados e compatíveis para transplante em seres humanos. Este é o primeiro biotério no país a operar sob nível de biossegurança 2 (NB2), essencial para avançar nas investigações sobre o xenotransplante, uma alternativa para o crescente déficit de órgãos humanos.
O reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior ressaltou, durante a cerimônia de inauguração, que a universidade busca sempre apoiar projetos científicos de grande impacto social, com foco na inovação.
“Investir em grandes instalações como essa nos coloca ao lado dos centros de pesquisa mais avançados do mundo”, afirmou o reitor.
O evento contou também com a presença de autoridades como o senador Marcos Pontes, o presidente da Finep, Celso Pansera, e o diretor do Instituto de Biociências da USP, Ricardo Pinto da Rocha.
Localizado na Cidade Universitária, o novo biotério é crucial para o avanço do projeto Xeno BR, que busca desenvolver suínos geneticamente modificados para a produção de órgãos que possam ser transplantados em seres humanos. Com capacidade para criar de 10 a 15 porcos, dependendo da linhagem, a instalação conta com diversas áreas, como salas de criação, reprodutores, centro cirúrgico e outras instalações de apoio.
Xenotransplante: um passo em direção à solução para a escassez de órgãos
Recentemente, o primeiro transplante de rim de porco para um humano foi realizado com sucesso nos Estados Unidos, no Massachusetts General Hospital, um marco importante no campo do xenotransplante. No Brasil, um grupo de pesquisadores da USP vem trabalhando há seis anos na edição genética de embriões de suínos para produzir órgãos compatíveis, como rins, corações, pele e córneas, com o apoio da Fapesp e do MCTI.
De acordo com o coordenador do projeto, professor Silvano Raia, um dos pioneiros no transplante de fígado no Brasil, a tecnologia de xenotransplante pode ser a chave para reduzir a fila de pacientes à espera de transplantes, que, em 2022, registraram uma média de sete mortes diárias no país devido à falta de órgãos.
“A criação de suínos geneticamente modificados para doação de órgãos é fundamental para suprir a demanda crescente, considerando que o número de doadores de órgãos no Brasil é limitado”, explicou Raia.
Avanços na genética e desafios do xenotransplante
A professora Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco da USP, lidera as pesquisas para superar os desafios da edição genética e da criação dos porcos geneticamente modificados. Segundo Mayana, as técnicas de clonagem, sequenciamento genético e CRISPR permitiram que a ciência avançasse de maneira significativa. A pesquisa já conseguiu silenciar genes responsáveis pela rejeição aguda dos órgãos, e o próximo passo é implantar esses embriões em suínas criadas em ambiente controlado e estéril, como o novo biotério da USP.
“Além da genética, é necessário avançar em áreas como imunologia e biologia molecular para garantir o sucesso do transplante e prevenir a rejeição dos órgãos”, afirmou Mayana Zatz.
Outro laboratório do projeto Xeno BR será inaugurado no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) ainda este ano, fortalecendo ainda mais o trabalho em prol da xenotecnologia e da medicina regenerativa.
Via: Jornal da USP