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O segmento de Hard Sciences com foco em Saúde no Brasil

Escrito por Editor@

outubro 24, 2022

Entenda o cenário nacional de desenvolvimento de hard sciences com foco na saúde, levando em conta projetos de pesquisa e startups do setor

Em maio de 2018, publicamos o Liga Insights Health Techs, material no qual analisamos e discutimos como as tecnologias estavam, na época, ajudando o segmento de Saúde a inovar em seus processos. Naquele estudo, muito do que foi abordado estava relacionado primordialmente à adoção de práticas mais digitais no setor, estando essas, por sua vez, muito ligadas a modelos relacionados a TI, com o objetivo e propósito de otimizar os processos da cadeia como um todo, passando por fabricantes, distribuidores, operadores, intermediadores e usuários de serviços e produtos de saúde.

Se há dois anos a transformação digital era uma tendência no segmento para que os atores envolvidos pudessem ser mais eficientes, produtivos e acessíveis, hoje configura um primeiro passo e obrigação para que a inovação continue sendo introduzida na Saúde. Ou seja, o digital não será deixado para trás, visto que possui e continuará possuindo importância, seja por suas próprias características ou como porta de entrada para inovações mais disruptivas no setor.

As startups de Hard Science

No estudo citado, classificamos a categoria de startups de Hard Sciences como “empresas que desenvolvem soluções com alto nível de complexidade, risco e envolvimento de pesquisas e testes para as regulamentações necessárias”. Hoje, entendemos – e o mercado entende – que tais condições, sim, são inerentes aos negócios dessa categoria e é, de fato, o que os caracteriza como “ciência dura”, em uma tradução livre. No entanto, apesar de tais características se mostrarem necessárias para a definição do significado do termo, delimitar desnecessariamente o conceito não parece benéfico para a evolução do mercado como um todo.

Claramente, para a condução do estudo que se segue, alguma mínima conceituação foi necessária, até para a definição de escopo do que seria abordado e analisado. Para isso, levamos em consideração muito do que foi coletado nas entrevistas realizadas com profissionais da área e muitos materiais que existem sobre o tema. Tais considerações foram somadas à necessidade de serem projetos e negócios com base científica e tecnológica e à definição que construímos no estudo de 2018.

De acordo com uma matriz presente em um estudo da Wylinka, realizado em parceria com a Associação Samaritano e Instituto Sabin, as Hard Sciences na área de Biomedicina e Psicologia incluem: células tronco e medicina regenerativa, imunoterapia e vacinas, engenharia genética (prevenção e personalização), medicina de precisão, THC e psicoativos, e novos tratamentos para saúde mental. Dentro disso, caberia ainda uma intersecção dessas temáticas com algumas Hard Sciences em TICs e Engenharia, também presentes na matriz, como nanotecnologia, impressão 3D, Medical IoT e Wearables.

Para Sergio Risola, diretor executivo do Cietec – entidade gestora da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica USP-IPEN –, negócios e startups de Hard Sciences em Saúde estão muito ligadas a pesquisa e desenvolvimento de soluções inovadoras, podendo ou não estar relacionadas à Tecnologia da Informação.

“A TI passou a ser transversal em tudo, mas quando se fala em Hard Sciences em Saúde, para nós, normalmente são negócios e startups que possuem semelhanças nos desafios enfrentados. São projetos que demoram para alavancar, com tecnologias que vão decolar em 5, 6, 7 anos ou mais, porque envolve muita pesquisa, ensaios clínicos, regulamentação. Além de todas as questões envolvidas para transformar isso em negócio”, afirma Risola.

Desafios para negócios de base científica

De fato, negócios de base científica e tecnológica no campo da Saúde possuem suas peculiaridades, características de desenvolvimento que lhes entregam maior capacidade de disrupção e transformação do mercado, ao mesmo tempo que representam desafios para uma evolução mais célere do segmento no país. De acordo com Jefferson Gomes, diretor presidente do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) – órgão vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo –, além das dificuldades existentes para transformar uma pesquisa em protótipo, existem desafios posteriores relacionados à segurança de produção.

“Em um primeiro momento, a linha de pesquisa é transformada em protótipo. Para que vire produto, é necessário garantir a cadeia de valor, é uma lógica diferente da que existe no laboratório. As universidades e centros de pesquisa criam protótipos excelentes, mas, para escalar, é preciso que cumpram normas, garantir que a linha de produção não erre. No segmento de Saúde, é preciso ter muito clara a percepção de valor e garantir a segurança do que está sendo entregue”, diz Gomes.

No entanto, apesar dos diversos e complexos desafios, ao mesmo tempo, muitas oportunidades estão sendo criadas – inclusive dentro do Instituto –, sendo todas elas muito importantes para que projetos sejam desenvolvidos, em um ambiente e ecossistema cujos cenários são propícios para o compartilhamento de conhecimento.

“Apesar de ainda estar muito concentrado no Sudeste e principalmente em São Paulo, existe um movimento realizado por universidades, parques tecnológicos, incubadoras, aceleradoras, que cria um elemento de evolução e inovação que vai além do digital. Além disso, são também ferramentas que possibilitam que um pesquisador possa acessar, até mesmo no IPT, plantas-piloto, laboratórios e profissionais de diversas universidades, sejam brasileiras ou estrangeiras. É um sistema unificado de relações. Toda essa atmosfera permite que sejam criadas inovações em Hard Science”, completa ele.

Se seguir as tendências do mercado de Health Techs relacionadas a crescimento e investimentos e a expectativa de que a ciência ocupe um lugar de importância ainda maior não apenas no Brasil, mas também no mundo – muito devido à pandemia causada pelo novo coronavírus –, negócios ligados à biotecnologia em Saúde podem apresentar um futuro promissor.

Como afirmado por Carlos Brito, diretor científico da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), em matéria do Estado de Minas, “a comunidade científica brasileira está oferecendo uma contribuição muito importante, apesar de ter sido pouco financiada com recursos federais, principalmente nos últimos seis anos”, dentro de um contexto em que a comunidade científica enxerga uma oportunidade para reconquistar o seu valor.

Os investimentos em Hard Sciences na Saúde

De acordo com informações do CB Insights, o setor de health care registrou, em 2019, 4959 negócios fechados, número recorde do segmento, totalizando mais de US$ 54 bilhões em investimentos. Startups de biofarma – empresas com foco em pesquisa, desenvolvimento e comercialização de fármacos de derivação química ou biológica, conforme definido pela própria organização – foram responsáveis por aproximadamente US$ 25 bilhões do total, em um cenário de crescente interesse da China pela categoria.

Em 2020, os investimentos em startups de biotecnologia no setor da Saúde também tem apresentado crescimento, comparando o primeiro trimestre deste ano em relação ao último de 2019. Conforme informações de um relatório produzido pela PwC, foi registrado, no período citado, o valor de US$ 6 bilhões em investimentos, US$ 1 bilhão a mais em relação ao último trimestre do ano passado.

Do total, o setor de biotecnologia foi responsável por US$ 2,7 bilhões do total, totalizando 67 negócios fechados; destaque também para o segmento de desenvolvimento de medicamentos, que totalizaram US$ 605 milhões em investimentos, valor 61% maior em relação ao registrado no último trimestre de 2019. E, além de modelos mais tradicionais de investimentos – como o próprio Venture Capital –, o segmento também conta com outras opções de captação, como as family offices, crowdfunding e financiamentos não-dilutivos, explicados nesse post da Labiotech.

Além disso, conforme publicado no Canal Tech, cujas informações se baseiam em dados do CB Insights, dos cinco maiores unicórnios – startups com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão – do segmento de Saúde, quatro deles podem ser classificados como Hard Sciences, passando por soluções que envolvem regeneração de tecidos, desenvolvimento de medicamentos a partir de inteligência artificial, equipamentos para imagens médicas e desenvolvimento de novos tratamentos.

Apresentação do estudo de mercado sobre Hard Sciences na Saúde

Para construir esse estudo, entrevistamos mais de 20 profissionais do segmento de Saúde no Brasil, incluindo executivos de grandes corporações do setor farmacêutico, medicina diagnóstica, complexos hospitalares, empreendedores e pesquisadores, porta-vozes de institutos e centros de pesquisa, incubadoras e aceleradoras. O propósito das entrevistas se resumiu em entender o ponto de vista de diferentes atores sobre as oportunidades existentes no cenário, os desafios enfrentados, iniciativas presentes no mercado e a importância das inovações tecnológicas e científicas dentro do segmento.

No primeiro aprofundamento, analisamos a importância dos parques tecnológicos, incubadoras e centros de pesquisa no desenvolvimento de soluções com base científica e tecnológica no Brasil, atores bastante relevantes para a criação de maturidade dos negócios e também para a conexão entre universidades e indústria. Ainda, discutimos rapidamente sobre a importância da digitalização para a adoção de inovações mais disruptivas, que devem impactar significativamente o segmento de Saúde nos próximos 20 anos.

Em um segundo momento, aprofundamos a discussão acerca da necessidade da transformação digital nas empresas do setor, visto que esta tem aberto portas para que as companhias possam ser mais experimentais no sentido de inovação, incluindo o conceito na área de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), transformando-a em P, D&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação).

Uma junção mais efetiva entre ciência e tecnologia ganha importância em um cenário em que a participação da iniciativa privada em investimentos em P&D cresce. Ainda, analisamos a importância de uma maior colaboração entre os atores do segmento, principalmente universidades e indústria, e apresentamos iniciativas criadas por corporações que possibilitam não só essa aproximação, mas também o desenvolvimento de soluções em conjunto com novos negócios e startups.

No terceiro e último aprofundamento apresentamos alguns dos principais desafios enfrentados pelos pesquisadores e empreendedores da área e dificuldades do segmento; sendo um país empreendedor, com uma sociedade criativa e produzindo conhecimento científico relevante em âmbito mundial,  o Brasil ainda é um país pouco inovador, de acordo com o Índice Global de Inovação.

Uma das explicações para isso é a falta de alinhamento de comunicação entre academia e indústria, que aos poucos começam a se entender melhor. Além disso, por causa de uma formação mais acadêmica e técnica, faltam aos pesquisadores e cientistas um conhecimento empreendedor, relacionado a negócios. Por fim, discutimos a importância dos aportes públicos dentro do segmento e apresentamos pontos de vista de um fundo de investimento e startups a respeito do cenário de investimentos privados no setor, dentro de um ecossistema ainda em construção no Brasil.

Esperamos que o material construído contribua para a discussão e crescimento do segmento de Hard Sciences em Saúde no país, em um momento em que a Ciência e seus profissionais recebem a merecida atenção, dentro de um contexto em que representam parte importante para o desenvolvimento de inovações tecnológicas e, consequentemente, de um país.

Via: Insights Liga 

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