Novas moléculas inibidoras de proteínas devem trazer avanços no desenvolvimento de terapias para tumores em animais e humanos. Pesquisa foi ganhadora do Prêmio Capes de Tese.
Pesquisadores da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga, identificaram o potencial antitumoral de moléculas em uma nova abordagem, a terapia epigenética. A epigenética está ligada a mecanismos bioquímicos que interferem na regulação da expressão de genes sem dependência de alterações no DNA
Os resultados ainda são experimentais, obtidos em testes com cultura de células de câncer de mama. Porém, de acordo com o professor Heidge Fukumasu, orientador do estudo, os experimentos abrem espaço para o desenvolvimento de várias terapias no tratamento de tumores em animais e também em humanos.
O trabalho é considerado inovador por implementar técnicas pouco utilizadas na veterinária oncológica. Responsável pela pesquisa, o biólogo Pedro Luiz Porfirio Xavier diz que a terapia epigenética já está bem descrita na medicina humana, mas pouco na veterinária, e que se trata de uma alternativa para “consertar a expressão alterada de alguns genes associados às características do câncer, como a malignidade”.
O estudo conduzido por Xavier ganhou destaque por abordar a epigenética e o câncer em cães, tema pouco estudado, e ser contemplado com o Prêmio Capes de Tese 2021 da área de Medicina Veterinária do Programa de Pós-Graduação em Biociência Animal da USP.
Distúrbios epigenéticos, afirma Xavier, estão associados ao desenvolvimento e progressão do câncer, mas, “diferente de alterações genéticas, os distúrbios epigenéticos podem ser reversíveis e isso abre uma série de possibilidades terapêuticas”. A equipe do Laboratório de Oncologia Comparada e Translacional (LOCT) conseguiu inibir a função de “proteínas defeituosas”, tornando as células cancerosas “menos malignas e, inclusive, mais suscetíveis para a terapia convencional, como a quimioterapia”, conta o pesquisador.
Moléculas inibem proteínas que agravam o câncer
Numa primeira parte, os estudos de Xavier se concentraram na epigenética do câncer em cães, comparando com os achados já descritos na literatura sobre a epigenética de tumores em humanos. Os resultados, segundo os pesquisadores, mostram que a oncologia veterinária tem muito a se beneficiar dos conhecimentos epigenéticos dos humanos e que as similaridades “destacam os cães como excelente modelo para estudar oncologia humana”, assegura Xavier, informando ser este um tema que chamam de oncologia comparada.
Depois, realizaram testes em laboratório (in vitro) com lâminas de cultura de células de tumores mamários de caninos. Estas células foram “expostas a diferentes moléculas que têm potencial terapêutico contra o câncer”, conta o pesquisador. Eles realizaram uma série de experimentos até chegarem a uma “molécula que foi muito efetiva em diminuir a malignidade das células de câncer de mama em cães”, a JQ1, que inibiu uma classe de proteínas epigenéticas chamadas BET. Agora, a equipe pretende aprofundar os estudos em modelo in vivo e “futuramente nos cães que apresentam essa doença”.
E o estudo ganhou um último capítulo com testes de um novo inibidor de proteínas epigenéticas, desta vez em células tumorais de mama humana. A nova molécula chama-se TW09 e foi desenvolvida recentemente pelos cientistas Stefan Knapp e Susanne Müller, da Universidade de Goethe, Frankfurt, Alemanha, onde Xavier estagiou. Segundo o pesquisador, os resultados mostraram que a TW09 diminui a viabilidade e o potencial do tumor, “inibindo a proliferação e a tumorigenicidade [capacidade ou tendência para produzir ou desenvolver tumores] de células de câncer de mama”.
O câncer de mama é mais comum em cães e gatos que em humanos. De acordo com o Conselho Federal de Medicina Veterinária, o tumor atinge 45% das fêmeas caninas e 30% das felinas. Das mulheres diagnosticadas com câncer no Brasil em 2020, 29% tinham tumor de mama, segundo o Instituto Nacional do Câncer. A rotina de trabalhos do LOCT envolve pesquisas sobre câncer de mama, linfomas e sarcoides em cães, gatos e até cavalos.
Via: Jornal da USP